O ataque russo que quase atingiu a Polônia e o dia em que a 3ª Guerra Mundial poderia ter começado

Guerra na Ucrânia completa cinco meses no próximo domingo (24) com momentos que poderiam ter mudado o rumo da história

O ataque russo que quase atingiu a Polônia e o dia em que a 3ª Guerra Mundial poderia ter começado

No início da invasão russa à Ucrânia, as ofensivas comandadas por Moscou se concentrava principalmente no leste do território ucraniano, na região estratégica do Donbass, e nos esforços para conquistar a capital Kiev, que nunca chegou perto de ser conquistada. Mas, quando parecia que a região oeste estava sendo poupada, os ataques aéreos começaram.

No dia 13 de março, o ataque russo a um centro de treinamento militar a 20 km da Polônia e a 40 km da cidade de Lviv matou 35 pessoas e deixou 134 feridos.

A  ação militar aterrorizou ainda mais os milhares de ucranianos que naquele momento tentavam deixar o país pela fronteira com a Polônia e levantou ainda mais questionamentos sobre os objetivos da Rússia. O presidente Vladimir Putin justificou a ofensiva dizendo que era parte da estratégia para ‘libertar’ a Ucrânia de grupos neonazistas. A invasão completa cinco meses no próximo domingo (24) e ainda não há sinais de cessar fogo.

Para Igor Lucena, doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa e membro do Royal Institute of International Affairs, “se os mísseis russos caíssem na Polônia e o país decidisse retaliar esse acontecimento, estaríamos vendo a entrada oficial da Otan no conflito, porque a aliança possui um pacto mútuo de defesa entre seus membros. Seria o começo de uma Terceira Guerra Mundial”.

O professor da universidade portuguesa ainda aponta que um embate direto entre forças russas e a Otan seria um incentivo para que outras nações entrassem no conflito, como a China, que tem uma maior proximidade com Moscou e poderia se opor às tropas do Ocidenteia. No mês passado, os líderes dos dois países concordaram em aumentar a cooperação econômica entre eles em meio às sanções ocidentais impostas à Rússia após a guerra na Ucrânia.

 

Neste contexto, o professor de relações internacionais da Facamp James Onnig explica que, “como o ataque ocorreu muito perto de Lviv, se os mísseis caíssem na cidade seria como se a Rússia estivesse atacando diretamente as rotas de saída dos refugiados. Além disso, a situação se complicaria ainda mais porque muitas embaixadas foram transferidas da capital Kiev para a região.”

Refugiados ucranianos chegam na fronteira do país com a Polônia

“Se a Polônia fosse atingida, teríamos consequências drásticas e a estabilidade do planeta estaria em risco. Esse acontecimento talvez fosse chamado de Terceira Guerra Mundial, mas pouco importa qual nome ele receberia, porque isso passa a ser secundário em relação a todas as vidas que estariam em risco.”

A fronteira polonesa foi o local de passagem para mais de 2 milhões de pessoas que buscavam um local seguro e distante dos bombardeios russos. Dois em cada três refugiados, saíram do da Ucrânia foram para a Polônia, em sua maioria mulheres e crianças.

Até a véspera do ataque russo que quase causou uma 3ª Guerra, mais de 1,7 milhão de pessoas cruzaram a fronteira da Ucrânia com a Polônia

Putin e a ameaça nuclear

No terceiro dia de invasão, em 27 de março, Putin ordenou que os militares russos colocassem as equipes nucleares em alerta máximo. A partir desse momento, o Ocidente começou a temer a possibilidade de uma guerra nuclear. Moscou poderia estar sinalizando o lançamento de uma bomba nuclear de curto alcance na Polônia, para garantir o controle de uma área específica.

Vladimir Putin colocou em alerta equipes nucleares da Rússia no início da guerra com a Ucrânia

Vladimir Putin colocou em alerta equipes nucleares da Rússia no início da guerra com a Ucrânia

SPUTNIK/MIKHAIL METZEL/POOL VIA REUTERS

A Rússia possui o segundo maior arsenal de armas nucleares do mundo e uma enorme quantidade de mísseis balísticos. Os armamentos constituem a parte principal das "forças de dissuasão" do país.

“Se Putin realmente usasse uma arma nuclear, a Otan poderia entrar no conflito e isso traria uma magnitude diferente”, explica Onnig. “Essa bomba não é igual aos mísseis que poderiam ter caído na Polônia por ser um armamento nuclear que destrói tudo ao seu redor. Então, essa ação poderia causar um efeito dominó do uso de bombas na Europa, por isso é importante o controle das armas nucleares e, se possível, o fim desses arsenais para a segurança do planeta.”

Igor Lucena também acredita que a declaração foi uma ameaça de Putin para impedir que o Ocidente entrasse em sua ofensiva militar. Segundo o professor, “a grande maioria dos arsenais nucleares estão em submarinos móveis o que torna muito difícil ter o uso assertivo de uma arma nuclear.”

Massacre em Bucha

  • Empresário ucraniano amigo de Putin Viktor Medvedchuk
  • Mãe ucrânia soldado
  • Mais de 5 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia desde o início da guerra, o que representa mais de 10% da população do país, segundo o último censo. Desse contingente, pelo menos 215 mil são estrangeiros que também fugiram do país
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  • Mãe ucrânia soldado
  • Mais de 5 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia desde o início da guerra, o que representa mais de 10% da população do país, segundo o último censo. Desse contingente, pelo menos 215 mil são estrangeiros que também fugiram do país
  • ucrânia fome
  • guerra ucrânia Bucha
  • O episódio mais marcante da guerra na Ucrânia neste mês foi o massacre de Bucha. Após a retirada de tropas russas da cidade, que fica próxima a Kiev, foram encontradas centenas de corpos de civis espalhados, muitos deles com as mãos amarradas. A Rússia nega o ataque à população do município
  • Os inúmeros corpos encontrados em Bucha fizeram com que o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, acusasse Putin de genocídio. O discurso foi seguido por Joe Biden, que anteriormente havia chamado o mandatário russo de criminoso de guerra
  • Este segundo mês de guerra também contou com a visita de líderes mundiais, como o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, a Kiev. Uma comitiva com representantes dos países bálticos também visitou a capital da Ucrânia para mostrar apoio ao presidente Zelenski
  • As visitas foram possíveis após as autoridades russas decidirem recuar da região de Kiev, no norte da Ucrânia, e concentrar as Forças Armadas no leste do país, nas regiões separatistas de Donetsk e Lugansk
  • As sanções do Ocidente contra a Rússia continuaram neste segundo mês da invasão, atingindo até as filhas de Putin, Katerina e Maria Vladimirovna Tikhonova. Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia promoveram as medidas econômicas que deixaram o governo russo perplexo
  • Estrutura sobre o antigo sarcófago que cobre o quarto reator danificado da usina de Chernobyl
  • Enquanto Chernobyl foi recuperada, a Rússia anunciou que a cidade portuária de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, foi dominada pelas forças russas. A tomada do município, duramente atacado desde o início da invasão, foi comemorada por Putin, que definiu a operação como um 'sucesso' 
  • Empresário ucraniano amigo de Putin Viktor Medvedchuk
  • A invasão russa da Ucrânia completa dois meses neste domingo (24) com milhares de mortos, milhões de refugiados e os pedidos da comunidade internacional para que Vladimir Putin anuncie o fim da ofensiva. Sem uma luz no horizonte, o Ocidente busca financeiramente e diplomaticamente maneiras de fazer com que a Rússia saia do território ucraniano

    Sergei SUPINSKY / AFP

As imagens de centenas de cadáveres de civis nas ruas de Bucha, cidade a noroeste de Kiev, chocaram o mundo quando as forças ucranianas conseguiram entrar na região após a saída dos russos. 

O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, chamou os soldados russos de "assassinos, torturadores, estupradores e saqueadores" depois que os corpos foram encontrados, alguns deles com as mãos amarradas nas costas.

A Rússia rejeitou todas as acusações vinculadas aos cadáveres que estavam na região e autoridades do país acusaram a Ucrânia de falsificar as imagens.

De acordo com os especialistas, as denúncias sobre esse crime de guerra também poderiam ter causado a intervenção de outros países no conflito, entretanto, as Nações Unidas, que deveriam defender os direitos humanos está “enfraquecida”.

Lucena explica que “como o principal meio da organização, o Conselho de Segurança, é composto pela Rússia, suas ações em relação à guerra na Ucrânia não são efetivas, o que faz com que todas as suas instâncias inferiores também sejam."

Além do poder limitado da ONU contra a Rússia atualmente, o professor James Onnig acredita que as ações ineficazes abrem questionamentos para a real ajuda do Ocidente à Ucrânia. “O governo ucraniano pode se perguntar: ‘Se todos esses cadáveres amarrados não foram suficientes para uma pressão humanitária construtiva que fizesse o Putin parar a ofensiva, o que mais precisa acontecer?'”

Entrada do Ocidente no conflito

Apesar desses três pontos de tensão não terem sido o suficiente para que novas nações mobilizassem suas tropas, os especialistas acreditam que a entrada de outros países na guerra ainda pode ocorrer, o que tornaria a situação no Leste Europeu ainda mais grave.

Lucena aponta para a possível entrada da Moldávia após ser aceita ao lado da Ucrânia como candidata a membro da União Europeia. Para ele, há o risco de nações que não são membros da aliança militar e nem da União Europeia serem tomadas pela Rússia.

O agravamento da crise humanitária e econômica por conta do preço dos alimentos e dos cereais bloqueados na Ucrânia também podem contribuir para a escalada da guerra.

Fonte:https://noticias.r7.com/internacional/o-ataque-russo-que-quase-atingiu-a-polonia-e-o-dia-em-que-a-3-guerra-mundial-poderia-ter-comecado-22072022