Mono-mono: moradora do DF espera gêmeos em gestação extremamente rara

Parto de Meiry Rodrigues, que deve ocorrer nesta terça (25/4), foi planejado para proteger as gêmeas Laura e Laís do risco da gestação

Mono-mono: moradora do DF espera gêmeos em gestação extremamente rara

Moradora de Ceilândia, a assistente administrativa Meiry Rodrigues, 33 anos, está na reta final de uma gravidez extremamente rara. Com parto marcado para esta terça-feira (25/4), em Brasília, ela tem uma gestação mono-mono, quando dois bebês dividem a mesma placenta e o saco amniótico. O quadro acontece em menos de 0,02% das gestações no mundo inteiro.

A possibilidade é tão pequena que Meiry se considera uma ganhadora da loteria, apesar de a situação representar perigo tanto para a saúde dela quanto para a das bebês Laura e Laís. A assistente administrativa corre alto risco de pré-eclâmpsia e até de óbito fetal, mas conta que conseguiu levar sua gestação com tranquilidade. “Sou uma sortuda”, diz.

 

 

 

Desde que descobriu a condição, Meiry teve nova surpresa a cada consulta médica. Ela soube que estava grávida pela primeira vez na vida na sexta semana de gestação e, inicialmente, os exames apontavam que seria apenas um bebê. Na 12ª semana, a felicidade dobrou: ela descobriu que esperava gêmeos.

O medo, porém, viria a fazer parte da rotina de acompanhamento a partir do mês seguinte. Na 16ª semana, Meiry descobriu que a gestação era mono-mono.

 

O que é o mono-mono?

A gestação monocoriônica, ou seja, com dois bebês dividindo a mesma placenta, ocorre em apenas 25% dos casos de gêmeos: nessas situações, os bebês são idênticos. No quadro de Laura e Laís, porém, as duas dividem também o saco aminiótico e há risco de transferência de sangue entre as irmãs.

“A bolsa amniótica é como um saco, uma fina película que contém os bebês. No geral, cada um tem seu próprio espaço delimitado por essa bolsa, mas no caso das filhas da Meiry o que temos é um compartilhamento completo”, explica a obstetra Juliana Rezende, que tem acompanhado a gestação de Meiry ao lado da obstetra Emilie Zingler. As duas são de Brasília.

A gravidez mono-mono ocorre quando o embrião se divide a partir do nono dia de gestação. Se a divisão tivesse ocorrido depois do 10º dia, havia uma chance altíssima de que as bebês fossem siamesas. As duas provavelmente se separaram no oitavo ou nono dia, e serão gêmeas idênticas.

As médicas, que pesquisam condições de risco em grávidas, passaram a observar o caso de Meiry ao saber de sua condição rara. A gravidez mono-mono precisa ser avaliada semanalmente pelos riscos que representa.

“Como as bebês compartilham o mesmo espaço e têm seus cordões umbilicais muito próximos, há um risco grande de os cordões darem um nó, que pode ser fatal”, explica Juliana. Emilie completa: “Por isso, o risco de morte dos bebês em gestações mono-mono é alto, acontece em mais de 70% dos casos”.

A descoberta desses riscos tirou o sono de Meiry no começo da gestação. “Tive muito medo. Pesquisei sobre a gravidez mono-mono e tudo que lia era muito negativo. Foi só com o apoio das médicas e do meu marido que consegui me tranquilizar”, afirma a assistente administrativa.

Problemas cardíacos

Mesmo com o diagnóstico, as surpresas ainda não haviam acabado. Na 24ª semana, os exames apontaram uma malformação cardíaca em uma das bebês. “A Laura tem uma condição que vai demandar cirurgia logo ao nascer, então tivemos que nos organizar para recebê-la”, conta Meiry.

A organização teve que envolver até a Justiça. O plano de saúde da assistente administrativa não prevê a possibilidade de parto em nenhum hospital do DF que conte com UTI neonatal. Para garantir a cobertura, foi preciso acionar o plano judicialmente.

 

A condição cardíaca de Laura também obrigou as médicas a fazerem uma conta arriscada. Em casos de gravidez mono-mono, a orientação é optar por parto cesáreo a partir das 32 semanas de gestação. Entretanto, a fim de que a menina esteja mais forte para passar pela cirurgia, as especialistas decidiram manter mais tempo de gravidez. Meiry já está em sua 34ª semana.

“Fomos empurrando com a barriga — no caso, a barriga da Meiry”, brinca Juliana. “É um caso de tanta sorte que não podemos dar chances ao azar”, afirma.

“Me sinto afortunada. Sei da condição dela, mas Laura significa vitoriosa, e é assim que me sinto. Com tudo que poderia ter acontecido, sentir minhas filhas comigo é como ter ganhado na loteria várias vezes seguidas”, garante Meiry.

Expectativas para o parto

Laura e Laís estão bem, têm entre 44 e 45 centímetros e pesam 2,5 kg e 2,3 kg, respectivamente. As médicas ressaltam que a situação saudável das bebês só pôde ser garantida por um acompanhamento obstétrico próximo.

“É importante que as grávidas, em caso de qualquer suspeita, busquem a emergência o mais cedo possível. Em Brasília, temos o HUB, que oferece assistência gratuita e especializada para esses casos, como o que aconteceu com a Meiry”, lembra Juliana.

Quando Laura e Laís chegarem a casa, já vão encontrar o quarto pronto, todo preparado por Paulo Marques, 33, o pai das meninas. “Eu sempre tentei passar tranquilidade para a Meiry. Claro que a gente passou por muitas surpresas, mas sempre nos apoiamos muito”, afirma o esposo da assistente administrativa.

O vigilante já tem uma filha de um relacionamento anterior. Alice, 8, é a mais empolgada para ver logo as bebês. “Ela está em uma ansiedade que não se cabe”, diz Paulo. Meiry, porém, mostra as mãos trêmulas quando fala da expectativa para o parto. “Eu sei que tudo vai sair bem. Tenho muita fé. Acho que o nervosismo é a vontade de conhecê-las o mais rápido possível”, arremata a mãe.